Mulheres em Luta! Publicada nova edição on line do trimestral Juízes para a Democracia

15/04/2016

Por Redação - 15/04/2016

Mulheres em Luta

A luta das mulheres pelos direitos é tema da edição 69 do trimestral Juízes para a Democracia.

Nas doze páginas do periódico são colocadas à discussão temas como gênero e individualidade, resgate do corpo, relações de trabalho, raça e classe social, violência obstétrica, aborto em tempos de zika, encarceramento feminino e feminismo na universidade.

A edição on line encontra-se disponível em: Jornal da AJD. Em breve a edição impressa será distribuída.

Abaixo, o editorial do periódico:

O sexo feminino

"Zombem muito embora os pessimistas do aparecimento de um novo órgão da imprensa.... O Sexo Feminino aparece, há de lutar e lutar até morrer... .O século XIX, séculos das luzes, não se findará sem que os homens se convençam de que mais da metade dos males que o oprimem é devido ao descuido que eles tem tido com a educação das mulheres e ao falso suposto de pensarem que a mulher não passa de um traste de casa....".

É com esse editorial que a professora Francisca Senhorinha Diniz inaugura o primeiro número da revista "O Sexo Feminino", em 7 de setembro de 1873, um dos primeiros órgãos da imprensa que, no Brasil, cuidou das questões da mulher, além e aquém do  seu papel de rainha desse território, algo sacro, algo mundano, que se chama lar.

De lá para cá, muita coisa mudou e pouca coisa mudou.

Com efeito, dona Francisca Senhorinha, vossa senhoria ficaria um pouco perplexa se cá estivesse, em 2016. Pelo teor de seus textos, podemos ler que a senhora apostava, e bem o fazia, que a educação seria o único e possível resgate da condição da mulher.

Estamos no século XXI. No Brasil, as mulheres, mais de 51% da população, são mais frequentes na vida escolar até o ensino superior (15,1% - os homens 11,3%), respondem pela menor taxa de analfabetismo (9,1% - homens, 9,8%) e abandonam menos a escola (52,2%)  do que os homens (43,4%).

E, veja que coisa, cara dona Francisca, no Brasil, ainda com esse bom índice de escolaridade, no mercado de trabalho o salário das mulheres não encontra equivalência com os dos homens. E, pois, estamos ainda na luta renhida para fazer com que a ferramenta da educação seja um eficaz instrumento de libertação feminino. As mulheres já sabem o beabá, escrevem e leem, muito, produzem arte,  fazem história, mudam as fronteiras geográficas e foram bem além da literatura, mas muitos sonhos ainda claudicam.

E fora do Brasil, saiba a dona Francisca, há milhões de meninas, que não vão e não irão, nunca, à escola. Nos países asiáticos e alguns da África, a Onu contabilizou que 16 milhões de meninas nunca terão chance de aprender a ler ou escrever. Sim, essa mazela atinge os meninos, também, mas a metade desse número. Se o dado é triste, no geral, é trágico para as mulheres.

Dados estatísticos à parte, cara Francisca, fato é que a mulher escolarizada, minimamente, muita vez, e ainda, em sua maioria, pobre e precisando trabalhar duro fora do lar, para trazer comida para os filhos, tem várias jornadas em um dia.

Dona Francisca, em nossos tempos modernos, mulheres são presas porque atendem ao pedido/ordem de seu homem e, uma vez presa, a casa cai.  Ela perde os filhos e os filhos se perdem e a vida perde o rumo. Há mulheres, dona Francisca, que dão a luz a seus filhos na prisão e depois de certo tempo filhos já não há. Saem eles dali para Deus sabe  onde! Mulher presa não tem cara, coração, corpo, nada de direitos, não! E nestes tempos, e faz tempo!, tem mulher negra, que mora na favela, e vê o filho morrer sem precisão, de um jeito mentiroso, o menino que nunca pegou em arma,  morreu em confronto com a polícia, veja só!.

O Brasil anda complicado! Tem mulher que faz aborto, a cada dia. E tem muita, muita mulher que faz aborto e morre. É que, dona Francisca, assim como no seu tempo, tem mulher rica e tem mulher pobre e isso, na hora do aborto,  faz toda a abjeta diferença.

Bem, dona Francisca, leia este número de nosso jornal. Está todo feminino. Nossa associação é de homens e mulheres que estão juízes e juízas, que sonham com um Brasil melhor, democrático e com menos desigualdade. E, por fim, dona Francisca, vamos plagiar seu texto do segundo número de  "O Sexo Feminino": Igualdade, respeito e justiça para o sexo feminino, minhas caras patrícias e  caros patrícios! Não cessemos de pugnar e clamar até que completamente consigamos esse desideratum"


Imagem Ilustrativa do Post: Bloco das Mulheres na Luta Contra a Violência do Estado n Dia da Mulher - Belo Horizonte - 08/03/2013 // Foto de: Circuito Fora do EixoPor: Circuito Fora do Eixo // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/foradoeixo/8540489540/

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode


O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura