Mulher sem história, mulher invisível  

15/03/2019

Nasceu. Simples assim.

Uma menina soluçava, berrava e a mãe não entendeu tamanho choro.

Menina de roupa maltrapilha, sem escola e sem hospital

Engravidou aos 14. Teve filhos. Abortou inúmeras outras vezes

Foi agredida, espancada e quase morreu por causa da violência dos companheiros

Fez faxina e cuidou de crianças na casa de outras mulheres

Seus filhos cresceram sem creche e escola; brincavam com armas naquela paisagem de Babel

Alguns foram para a prisão, outros morreram no caminho da vida

Aquela mulher sem voz, gritava, em casa, de desespero

Trabalhava sem carteira assinada

Não contribuía para a previdência

Não tinha FGTS para sacar

Pagava o aluguel e comia muito mal aquela comida envenenada

Com câncer, sem dentes, na cama do SUS, sem parentes e amigos para ajudar

Sem dinheiro e perspectivas

Ia para a Assembleia pedir que o divino abençoasse aquela existência

Aquela mulher já passou.

 Ninguém nem lembra.

O tempo apagou seu nome e existência.

Seu sofrimento pode ser sentido e refletido como mais uma existência das mulheres sem história.

13/03/2019

 

Ezilda Melo é Advogada. Professora Universitária. Mestra em Direito Público pela UFBA. Especialista em Direito Público pelo Curso JusPodivm. Autora de livros e artigos jurídicos. Palestrante. Graduada em Direito pela UEPB e em História pela UFCG. Co-organizadora, co-autora do livro "Feminismos, Artes e Direitos das Humanas" - Para adquirir a obra, clique aqui.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/7223307007394926
www.ezildamelo.blogspot.com

 

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