Por Redação - 14/08/2015
João Marcos Buch juiz titular da Vara de Execuções Penais da comarca de Joinville, lançará seu novo livro "Crônicas, Relatos, Vivências" no próximo dia 22, pela editora Giostri. Buch inspirou-se em situações diárias da vida de juiz criminal e de execução penal para escrever a obra.
Na contracapa do livro está registado o comentário tocante feito por Luis Fernando Verissimo sobre a obra:
"Admirável. Foi a única palavra que me ocorreu ao saber da iniciativa do juiz corregedor João Marcos Buch. A de proporcionar a leitura a apenados na cidade de Joinville. 'Admirável' não é uma palavra que se gaste, como elogios protocolares. De quantas coisas e pessoas se pode dizer, hoje em dia, que merecem nossa admiração sincera, sem qualificativos e ressalvas? E João Marcos Buch também é cronista, com uma também admirável percepção do que há de humano e resgatável em qualquer indivíduo".
Em entrevista, João Marcos Buch nos conta mais sobre seu livro e sua carreira.
Qual é a proposta do livro "Crônicas, Relatos, Vivências"?
Transmitir experiências do cotidiano de um juiz, especialmente daquele que atua na execução penal, numa linguagem tranquila e não técnica, onde o caráter humano fica bastante evidente.
Quais suas motivações para escrever sobre este tema?
O juiz confronta diariamente no seu trabalho o drama de vida das pessoas e para o juiz da justiça criminal isso se torna mais acentuado. E é claro que isso afeta a pessoa do juiz. Então, passei a escrever crônicas para de certa maneira expurgar as bruxas. Inicialmente o fazia para mim mesmo, depois passei a publicar algumas e finalmente isso se tornou um hábito, agora englobado num livro.
Conte-nos algum fato marcante ocorrido durante a sua experiência como juiz.
São muitas, inúmeras as situações marcantes. Sempre procurei tomar o cuidado de não levar o trabalho para casa, isso não é saudável. Porém, há fatos que acabam me atingindo com maior ênfase e que ecoam em minha mente como uma ópera. Um desses fatos foi o encontro que tinha com um menino de seus 16 anos num sinaleiro da cidade, sempre que saia para almoçar. O menino era esperto, de boa conversa e vendia guloseimas etc. Perguntava para ele sobre os estudos, ele chegou a me mostrar o boletim numa ocasião. Disse então que ele deveria me procurar no Fórum para que eu pudesse o encaminhar para melhores estudos e trabalho. Ele não apareceu e eu não mais o vi no sinaleiro. Anos depois, em inspeção no Presídio, passando pelas galerias eu o reconheci, preso, magro, pálido, abatido. Ele, envergonhado, tentou se esconder no breu da cela. Mas eu o chamei e ele apenas disse que era tarde demais para ele, fechando-se. Depois descobri que ele havia se envolvido em tentativa de latrocínio. Aquilo me marcou muito. O que eu estava fazendo, que juiz era esse que sabia das infinitas possibilidades que os jovens têm para ser felizes e que por fatores históricos sociais e políticos estavam sendo lançados na marginalidade e num mundo de violência sem fim. Temos que ter atitude, temos que sair da inércia e da banalidade burocrática, precisamos fazer por merecer o poder que nos foi outorgado.
Luis Fernando Verissimo comentou sua obra, como isso aconteceu?
Quando da análise do material, a Editora verificou um texto que eu havia escrito e que envolvia um detento que tinha lido Comédias da Vida Privada. Então, foi mandado o material para ele, perguntando se comentaria algo para publicação. E para minha grata surpresa e emoção dias depois o comentário veio. Não me canso de o ler (risos).
A literatura é muito presente em sua vida, fale-nos sobre isso.
Desde a adolescência sempre li muito. Relatei como isso constituiu minha personalidade na introdução do livro. Não era daqueles jovens que se fechava para ler e não saia para jogar bola. Eu fazia isso tudo, porém eu via na leitura uma oportunidade de conhecer o mundo e as pessoas sem precisar esperar os anos passarem para adquirir experiência. Por isso sempre procurei ler. A leitura me abria e continua abrindo o universo.
Quais os planos para carreira e para futuras publicações?
Bem, tenho duas obras técnicas publicadas e também um romance (Encontre-me no Café em Paris). Estou com outra obra no forno, com viés mais denso, mais policial. Porém, sou juiz e é isso que pretendo continuar sendo. Sou feliz na profissão que abracei. Nem tudo é glamouroso como imaginam, mas é um trabalho que se bem feito pode trazer muita satisfação. Em resumo, sem nunca perder o foco de quem eu sou, na medida do possível procurarei continuar a escrever.