O Rock in Rio de 1985. Democracia e Direito - Por Germano Schwartz

22/09/2015

Por Germano Schwartz - 22/09/2015 

Mas e então está ocorrendo um Rock in Rio? E no Rio de Janeiro mesmo (sarcasmo, Sheldon)? Caramba. Eu não sei em que mundo eu vivo, porém eu realmente não sabia dessa edição do evento. E eu deveria, pergunto-me? Qual a relevância de mais um Rock in Rio? Sinceramente, não sei.

Correndo o risco de soar como um nostálgico da eternidade (Ost), não tenho medo de afirmar que Rock in Rio, mesmo, só houve dois.  O de 1985 e o de 1991. Digo isso porque os dois foram marcantes para quem, como eu, estava a respirar os ventos da democracia.

Nessa linha, para ser ainda mais específico, se há um momento em que rock, democracia e Direito se encontraram em um lugar certo e determinado no Brasil, esse episódio foi o Rock in Rio de 1985. Sim, eu sei que em 1991 havia a volta do Guns ‘n’ Roses e que o Faith No More se revelou aos brasileiros. Mas, gurizada, o Guns era uma banda bastante contestada naquela época....

O Rock in Rio de 1985. Chega ser difícil descrever os ares que se respiravam naqueles dias. A democracia prometida estava prestes a nascer. A juventude ainda não acreditava muito nessa possibilidade, pois ainda ouvia, como eu, discos da Blitz com as duas últimas faixas riscadas por causa da censura.

censura

Imagem disponível em: http://www.cenarioshow.com.br/o-disco-riscado-da-blitz

Aliada a essa desconfiança, vinha a descrença. O quê? Queen, Iron Maiden, Whitesnake, entre outros, tocando no Brasil? Impossível. Para um país com parcas experiências anteriores de organização de shows dessas bandas e absolutamente alijado, à época, das turnês mundiais, era mais fácil o General Figueiredo voltar a gostar de povo do que o Rock in Rio ocorrer.

Mas ele ocorreu. Ah, e como ocorreu! Eu vi tudo pela TV. Grudado. Soube, então, que havia uma nova espécie de seres humanos que eu jamais havia conhecido: os metaleiros. Mais, uma tal de Nina Hagen apareceu tal qual como um cometa. Brilhou e foi embora. E o James Taylor? Bem, confesso que continuo a não lembrar dele.

Sou obrigado a confessar, todavia, que o meu grande espanto naquele festival não se deu com as bandas internacionais. Nem mesmo o Ozzy me assustou. Minha curiosidade ficou atiçada pelas bandas brasileiras. Ôpa! Então há rock aqui (eu tinha 11 anos)? E com gente cantando os problemas da minha sociedade?

Assistir ao show do Ney Matogrosso foi como receber um petardo na cabeça. Dali gravei na mente que ele havia liderado os Secos & Molhados. Kiss? Nada. Tivemos nossos mascarados antes e, em minha opinião, de qualidade superior ao excelente grupo do linguarudo Gene Simmons.

Tinha uma mulher grávida no palco. Baby não sei do quê. Eu fiquei paralisado. Como ela pode ser tão livre e sem medo? Coitada da criança, pensei. Mal eu sabia que estava ali um grito de liberação da hegemonia masculina. Na real, recordo somente de uma música (Menino do Rio). A imagem é que foi marcante.

Para o meu gosto, eu pulei fácil o show do Ivan Lins, do Alceu Valença e da Elba Ramalho. Assisti ao show da Blitz com muito interesse. Eu cantava aquela “Estou a Dois Passos do Paraíso” a todo o momento. Ledo engano. Ainda faltavam vários passos. O Lulu Santos tinha vários hits e eu não sabia. O Paralamas entrou no palco e parecia um cover do The Police. Mas era nosso.

Os grandes shows brasileiros, todavia, foram, para mim, do Kid Abelha e do Barão Vermelho. O Kid Abelha porque vinham com uma vocalista. Ela era a frontwoman e isso não era nada normal naqueles idos. Eu começava a ver que o rock poderia ser contra o status quo. E havia um horizonte pronto a ser conquistado pela minha geração.

Cazuza. Barão Vermelho. Para mim eles foram o Rock in Rio 1985. Eles dominaram o palco. Tínhamos um poeta em uma banda a la Stones, e estávamos prontos para a democracia. Estávamos a um triz para o dia nascer feliz!

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Agora me digam: é serio mesmo que está ocorrendo um Rock in Rio?


Germano

Germano Schwartz é Diretor Executivo Acadêmico da Escola de Direito das FMU e Coordenador do Mestrado em Direito do Unilasalle. Bolsista Nível 2 em Produtividade e Pesquisa do CNPq. Secretário do Research Committee on Sociology of Law da International Sociological Association. Vice-Presidente da World Complexity Science Academy.      

Publica na coluna semanal DIREITO E ROCK no Empório do Direito, às terças-feiras.      


Imagem ilustrativa do post: Sem título // Sem alterações

Disponível em: http://minutohm.com/2011/04/25/rock-in-rio-1-1985-o-ingresso-e-um-pouco-do-evento-

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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