Sobre a urgência e atualidade de um livro libertário: Abolicionismos e Cultura Libertária (2017) – Por Guilherme Moreira Pires

10/08/2017

"Eu também não fui domesticado, eu também não sou traduzível, lanço o meu grito bárbaro sobre os telhados do mundo."

Walt Whitman

TRONO E PODER

Esse livro também traduz nossa oposição a cada autoridade insana, que enxerga no mundo seu jardim pessoal, uma espécie de playground em que se pode exercer poder sobre os objetos ordenados e à disposição - propriedades num território governado.

Nesse playground, a retificação de cada violência nos remete a reificações inspiradas no corpo imaterial do rei, é dizer, no princípio da autoridade - sua armadura (retórica) discursiva.

Somos brinquedos de autoridades brincando com vidas, em meio a tabuleiros e regras que não produzimos.

Contratos que não assinamos.

Universalidades que não toleramos.

Abolir esses controles é preciso, dissolvendo castigos, hierarquias e autoridades.

Estancando suas produções de falsas verdades.

Contra essas produções do poder, navegamos sem temer.

Aprendemos a rir da ruína?

(!!!)

A poesia acima (por Guilherme Moreira Pires) antecede o sumário do livro “Abolicionismos e Cultura Libertária: inflexões e reflexões sobre Estado, democracia, linguagem, delito, ideologia e poder” (340 páginas) lançado em 2017 pela Editora Empório do Direito, que conta também com outras poesias e ensaios libertários (anarco-abolicionistas) explicitando parte do que motivou a estruturação do livro, bem como a urgência de se apartar do princípio da autoridade e suas múltiplas (e tóxicas!) reverberações no presente.

Reunindo escritos diversificados dos autores (Guilherme Moreira Pires e Patrícia Cordeiro) com extras dos potentes Pablo Ornelas Rosa, Paulo Edgar da Rocha Resende e Clécio Lemos, são atravessados, como sintetiza Pablo no prólogo do livro, não só o abolicionismo penal (em sentido estrito), e o anarquismo de modo geral, mas as histórias dos pensamentos libertários (tão injustamente menosprezadas pelas histórias dos pensamentos criminológicos e suas autoridades e ressonâncias).

Na sensibilidade estonteante de Paulo, em seu posfácio do livro: "O texto flui não em diagramas pré-determinados por linguagens e narrativas formais das disciplinas acadêmicas. O fluxo é livre, transverte e subverte saberes sujeitados e reprodutores da máquina de dominação estatal."

Clécio Lemos, em brilhante epílogo inconclusivo, sublinha o que lhe pareceu mais potente, destacando que os sistemas punitivos sobrevivem na medida em que seguem emergindo os sujeitos punitivos (produtos do poder e saber, dotados de certa historicidade). Ele saúda analíticas que se dispõe a desestabilizar a zona de conforto dos “arautos do penalismo”, navegando nos territórios das constelações repressivas como energia destoante, em um livro destoante.

Saúde aos companheiros abolicionistas libertários da América Latina!

Saúde à arte de não ser governado!

(E, às culturas repressivas, abolição!)

(!!!)

NOTA

O livro pode ser adquirido através do site: https://vendasventoliberta.wixsite.com/comprar


O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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