Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Drummond perguntou a José:
“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?”
[...]
Eu lhe pergunto:
E você, Maria?
que viu a porta fechar,
aparência cessar,
o social findar
a maquiagem acabar
e a realidade chegar.
E você, Maria?
que vive de engano,
que suporta o desamor,
que se contenta com o desvalor,
que se esqueceu até da dor.
E você, Maria?
que sonhou com o amor,
que imaginou o sabor,
que sorriu ao som do ardor.
Cadê você, Maria?
A mulher guerreira,
arteira,
de palavra firme,
mãos afetuosas,
olhar certeiro
e direção traçada.
Perdeu-se nos discursos, Maria?
Entregou-se as promessas?
Acreditou nas desculpas?
Fechou os olhos, fingiu não ver?
Aceitou o inaceitável?
Calou-se para não ouvir?
Ah, Maria, e você?
Não há controle,
nem estabilidade.
Não há velhice acompanhada,
nem filhos que justifiquem.
Ah, Maria!
O dia e a noite são um só momento,
a escuridão tomou conta do tempo,
a traição é um constante tormento.
A mentira, a companheira diária.
Acorda Maria!
A porta fechou,
o leite derramou,
tudo acabou.
No lugar da alegria,
somente a dor.
No lugar do carinho,
a mão do horror.
No cristal da beleza,
o vidro despedaçado.
Grita, Maria!
chora,
esconde a mancha com pó,
sofre,
geme,
diz que foi só hoje.
Mente...
e acredita que a porta há de se abrir novamente.
Mas não esquece, Maria!
Nada será como antes,
nada é só instante.
Após a porta, só o mar e a ilusão,
o sorriso forçado,
o apego ao imaginário,
a incoerência das aparências.
E agora, Maria?
Que a realidade chegou,
e o corpo mostrou que o ódio se consumou.
E agora, Maria?
Que a verdade se manifestou,
a paciência se esgotou
e o amor acabou.
E você, Maria?
A quem pouco resta.
Que ao cerrar a porta, se deparou com um espelho quebrado,
com sua imagem embaçada,
machucada,
doída,
ferida,
iludida,
mas ainda viva!
E agora, Maria?
Foto enviada pela autora