Mulheres em situação de violência doméstica: menos crítica, mais ajuda

07/04/2016

Por Roberta Lídice - 07/04/2016

Quem nunca ouviu essas frases, ao menos uma vez:

-“Se está apanhando é porque gosta”; -“Apanhou porque mereceu”; -“Mulher tem que apanhar como homem”.

Infelizmente, são frases ainda ditas em nossa sociedade, em pleno século XXI, em diversas regiões do país, independentemente, de classe social, cultura, raça ou religião.

Ainda mais assustador é que, tais expressões são proferidas, muitas vezes, pelas próprias mulheres, referindo-se à outras, o que torna a questão um pouco mais grave.

Se quisermos a erradicação da violência contra a mulher, devemos começar por nós mesmas, uma ajudando a outra e não prejudicando. Um bom começo seria o respeito mútuo, fortalecendo um grupo que deve se manter unido, caso contrário, qualquer iniciativa no combate à violência, se tornará meras falácias e "perfume” para uma mulher que, realmente, está em situação de violência e precisa de ajuda.

Ninguém gosta de apanhar, seja mulher ou homem e ambos possuem sentimentos, valores, histórias e marcas em suas vidas.

Sim, um homem também tem sentimentos, desejando ser valorizado e respeitado, tanto quanto a mulher.

A pessoa que está em situação de violência doméstica precisa de ajuda e não de críticas, sendo muito importante estabelecer uma relação de confiança com amigos e familiares, a fim de que esta possa buscar socorro para sair deste triste momento.

Você já ouviu falar da Síndrome do Desamparo Aprendido?

Esta Síndrome pode ser desenvolvida pela repetição do ciclo de violência sofrido pela vítima, acreditando que, não importa o que faça, é incapaz de controlar o que acontece em sua vida, ficando desmotivada e sem reação, diante da situação de violência. É fácil criticar algo ou alguém, quando não estamos no problema, mas é melhor nos posicionarmos como ajudadores, pois não sabemos o que nos espera amanhã.

Diante o exposto, deixo para reflexão o seguinte argumento de Simone de Beauvoir, escritora, filósofa e ativista política:

“Tive a sorte de pertencer a uma família burguesa, que, além de financiar meus estudos nas melhores escolas, também permitiu que eu brincasse com as ideias. Por causa disso, consegui entrar no mundo dos homens sem muita dificuldade. […] Portanto, tornou-se muito fácil para mim esquecer que uma secretária nunca poderia gozar desses mesmos privilégios […] eu costumava desprezar o tipo de mulher que se sentia incapaz, financeiramente ou espiritualmente, de mostrar sua independência dos homens. De fato, eu pensava, sem dizê-lo a mim mesma, “se eu posso, elas também podem”. […] Através de O Segundo Sexo tomei consciência da necessidade da luta. Compreendi que a grande maioria das mulheres simplesmente não tinha a chance que eu havia tido; que as mulheres são, de fato, definidas e tratadas como um segundo sexo por uma sociedade patriarcal.” (BEAUVOIR, 1996).

É momento de unir forças e tomar um posicionamento firme e combativo diante da violência, não precisando acontecer em nossos lares, com nossa família e amigos, mas sabendo que nosso semelhante grita por auxílio.

Seu lar é perfeito, não existe violência dentro da sua casa, parabéns! Existem outros milhares que não estão com a mesma sorte. E o que você tem com isso? Eu te respondo: nada. Mas se não quer ajudar, ao menos não atrapalhe com suas críticas, tanto ao que sofre violência, quanto à pessoa que luta por esta causa.

Por menos críticas e mais ajuda. Denuncie a violência doméstica e familiar.


Roberta LídiceRoberta Lídice é Advogada. Consultora. Palestrante. Especialista em Gestão Pública: Políticas e Gestão Governamental pela Escola Paulista de Direito – EPD. Pós-Graduada em Direito Empresarial – EPD. Ouvidora – Certificada pela ABO – Associação Brasileira de Ouvidores/Ombudsman - São Paulo. Membro da Comissão de Estudos de Direitos Humanos do Instituto dos Advogados de São Paulo – IASP/Relatora do Grupo de Estudos sobre a Discriminação da Mulher.


Imagem Ilustrativa do Post: Domestic Violence // Foto de: CMY Kane // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/cmykane/6326383000

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode


O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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