Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Recentemente estive num almoço e reencontrei uma amiga, muito inteligente. Conversávamos sobre vários assuntos, quando em certo momento ela me disse que, por ser da área de exatas, costuma dar peso às coisas, avaliar quanto determinado acontecimento ou tarefa vale a sua energia ou atenção. Por exemplo, se queima uma lâmpada, isto teria peso 01 numa escala de aborrecimento de 01 a 10, enquanto um incêndio no local teria peso 10. Segundo ela, seguir a vida encarando pequenos obstáculos apenas como pequenos obstáculos, valorizando-os na medida do real peso que merecem, sempre foi parte importante do seu modo de vida. E tudo decorre de muito treinamento.
Se pararmos para pensar, muitos de nós valorizamos em excesso e gastamos energia emocional desnecessária em pequenas coisas. Reclamamos e fazemos tempestade em copo d’água. Damos peso 05, 07, ou até 08 para um simples aborrecimento como uma lâmpada queimada a ser trocada, pois vivemos num mundo cheio de estímulos e contrariedades, de modo que qualquer pequeno imprevisto toma uma proporção muito maior. Daí, quando realmente surge algo grande e difícil de resolver, não sobra energia para lidar com aquilo, ficamos exaustos física e emocionalmente.
A razão é diferente da emoção, mas até a matemática pode servir de fundamento para demonstrar que precisamos não dar valor demais às coisas corriqueiras e/ou pequenas. E aí está um paradoxo muito interessante.
Questões como o congestionamento do trânsito, problemas no trabalho, notícias televisivas ou pela internet, ofensas gratuitas, entre outras, podem tirar o nosso sono e nos fazer sofrer, remoer mágoas, nos deixar irritados, angustiados.
Não podemos comprar toda e qualquer ofensa. Não podemos consumir toda e qualquer notícia. Temos que aprender a filtrar, a respirar por alguns instantes antes de dar uma resposta diante de uma provocação. Temos que aprender a dar peso pequeno e gastar pouca energia emocional em coisas deste tipo. A nossa paz, sim, vale ouro.
É necessário dar um choque de lucidez nos nossos pensamentos perturbadores. Para fazer isso, precisamos treinar a nos controlar. Não existe fórmula mágica, mas sim autoconhecimento e treinamento.
Filtre. Apesar de ter bastante coisa boa acontecendo no mundo, as tragédias sempre ganham destaque nos noticiários. Claro que existem coisas ruins e temos que nos informar a respeito, nos insurgir, enfrentar. Porém, coisas boas existem também. Devemos levar para frente projetos que deram certo. Resgatar a humanidade, a generosidade, a solidariedade.
É certo que não podemos deixar de sentir emoções, inclusive as que não são agradáveis, mas podemos decidir o que vamos fazer com elas, se tivermos um Eu forte e treinado a não deixá-las nos dominar, a dar o peso certo para as coisas, numa matemática saudável das emoções, gastando pouca, média ou muita energia emocional conforme as prioridades, reservando um tempo para contemplar o belo e recarregar novamente as energias.
No livro “365 Dias de Inteligência”, o psiquiatra e escritor Augusto Cury, ensina que “eu ou qualquer outro ser humano jamais seremos plenamente equilibrados. Até porque cada pensamento se organiza, experimenta o caos e se reorganiza em outros pensamentos, o que evidencia que o psiquismo humano está em constante ‘desequilíbrio’ no processo construtivo. Tal desequilíbrio é normal. Mas uma coisa é o “desequilíbrio do processo construtivo” dos pensamentos e emoções; outra é o ‘desequilíbrio do gerenciamento do Eu’, das nossas reações, atitudes, respostas. Este último é doentio, expressa as inabilidades do Eu como gestor psíquico.”
Vamos treinar somar tudo aquilo que agrega, conforta e motiva, e subtrair tudo aquilo que destrói, consome e pesa.
Imagem Ilustrativa do Post: ur life // Foto de: Amelia Wells // Sem alterações
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